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DIÁRIO DA JU: Em algum momento você vai acordar do pesadelo. Não desista!!

Eu tenho um problema… Um problema sério e hoje vou falar sobre ele. Me chamo Juliana, tenho 41 anos, jornalista, servidora pública, mãe de dois rapazes lindos e super diferentes um do outro, o Felipe, de 22 anos e o Pedro Paulo, de 20, meus maiores tesouros. Sou filha da Maria Lúcia, mulher sofrida que hoje mora em um plano superior ao nosso e a razão da maior dor que já senti, sinto e sempre sentirei, até o meu último suspiro de vida. Sou filha do Walter, um figuraça por quem tenho grande amor, irmã do Rodolfo e do Rafael, os caras mais incríveis que eu conheço e meia irmã do Bruno, da Anielly e do Junior, pessoas do bem e que têm de mim um amor incondicional, mas que raramente consigo expressar. Sobrinhos tenho quatro, Lucas (do Rodolfo), Valentina (da Anielly) e João e Maria (do Bruno). Infelizmente a nossa convivência não é diária, mas nutro por eles afeto e o desejo de que se tornem bons adultos, pessoas do bem e de caráter, como seus pais.

Tenho pouquíssimos, porém, bons e fiéis amigos e arrisco dizer que alguns, são como verdadeiros irmãos. Sobre minha personalidade, diria que extrovertida é uma das minhas principais características. Sim! Eu faço as pessoas sorrirem, na maioria das vezes. Porém, também tenho um lado frio, impulsivo, rancoroso, explosivo ao extremo e, às vezes, até violento. Por outro lado, no sentido afetivo da coisa, sei que tenho um bom coração. Quando eu gosto, gosto muito, quando eu amo, amo muito, se é pra defender, proteger, cuidar, comigo não tem essa de “medir consequências”, e é bem aí que entra o tal lado agressivo. Mas não se engane! Posso até ser uma leoa que defende e protege os seus, mas não sou carinhosa, com ninguém! Com exceção do que diz respeito à intimidade entre um casal, abraço, beijo, carícia ou qualquer outro tipo de contato físico muito próximo, me causam o que eu chamo de “agunia”. Mas confesso! Eu queria muito ser carinhosa, talvez aprender a ser, ofertar ternura aos meus filhos, irmãos, meu pai, amigos, mas, definitivamente, não sou, não sei fazer! E isso me faz mal! Muito mal! Acredito, inclusive, que este é um dos principais fatores que alavancaram o “problema” que mencionei no início do texto.

Esse problema tem um nome e hoje é considerado um dos males do século, a depressão. São milhares os artigos, matérias, livros, teses, pesquisas, estatísticas e tantos outros meios que abordam o tema depressão, suas causas, consequências e possíveis tratamentos. No meu caso, eu sei bem quando, o motivo e o que desencadeou meu quadro. Foi em maio de 2013, com a morte da minha mãe e a culpa que, desde então, carrego comigo. Eu nunca me perdoarei por não ter conseguido ser uma filha melhor, mais carinhosa, atenciosa, dedicada. Nos nossos 37 anos de convivência, poucos foram os abraços, os beijos, o afago no cabelo, o olhar de ternura… Dilacerante lembrar disso.

Mas não foi apenas isso, alguns traumas da infância, somados a outros fatores, ajudaram a potencializar o que, até então, eu entendia como uma fase difícil, que logo passaria. Não! Não passa! Não passa e a tendência é piorar, se agravar e chegar a um ponto onde você já não encontra em nenhum lugar, motivos para continuar a viver. É uma dor horrível, diária, profunda, um vazio perpétuo, um enorme labirinto sem saída. É você estar em meios a inúmeras pessoas, se divertindo, sorrindo e mesmo assim, sentir uma solidão que sufoca, maltrata, judia, desespera. É você chegar ao trabalho feliz da vida, espalhando calorosos ‘bom dia’ e, ao mesmo tempo, sentir que essa não é você, que na verdade você está lá dentro do seu corpo, sentada em um quarto escuro, acuada, morrendo de medo de não ser forte o suficiente para suportar e atender as expectativas e cobranças exteriores.

Creio que por isso os números de suicídios crescem absurdamente todos os dias. Uma pessoa depressiva não se mata porque não quer mais viver! Ela se mata porque não aguenta mais sofrer! É uma dor invisível e pouquíssimas vezes alguém identifica um parente, um amigo, um conhecido com quadro de depressão. Por essa razão, uma das frases mais relacionadas ao suicídio é: “Nossa, mas ela parecia tão bem!”. É claro que em alguns casos, a pessoa deprimida demonstra sinais, pedidos de socorro silenciosos, mudança de comportamento, mas nem sempre é assim. Eu, Juliana, para fugir de pensamentos destrutivos e evitar o sofrimento das pessoas que amo e precisam de mim, encontrei uma válvula de escape: a compulsão alimentar.

Eu não tenho um histórico de obesidade, mas também nunca fui magérrima. Minha obesidade chegou logo após a morte da minha mãe. Cheguei aos 111 quilos e uma saúde deprimente. Na cirurgia bariátrica, enxerguei a possibilidade de me dar mais uma chance. Emagreci quase 40 quilos! Me sentia linda, uma auto estima maravilhosa, revigorante, sentia que a felicidade plena havia invadido a minha vida. Ledo engano. Não adianta de nada uma casca saudável, se por dentro a fruta está podre. Apesar de recuperar a saúde física, a minha saúde psicológica estava ainda mais destruída. Eu passei e ter verdadeiro pânico de engordar de novo, de não ouvir mais as enxurradas de elogios, de perder o amor próprio que eu achava ter encontrado…

Começou um novo inferno na minha vida! E o resultado disso tudo? Voltei a ganhar peso, um sentimento de fracasso tomou conta até da minha personalidade, os comentários e julgamentos depreciativos, maldosos e sarcásticos chegaram. E com eles, a pior crise de depressão que já tive desde 2013. Hoje eu estou aqui, escrevendo, desabafando, contando um pouco da minha história, que nem longe está perto de acabar. Não vou permitir que acabe porque existe algo muito mais forte que me motiva, que me dá força, que me estende a mão quando estou despencando… A minha esperança! Não é, não tem sido e talvez nunca seja fácil, mas acreditar que tudo pode ser diferente, que existe um ser superior a tudo isso, que sabe de todas as coisas e que guarda algo de bom para você… É acreditar que, em algum momento, você vai acordar do pesadelo! Não desista!

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Renata Vannier

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